E que tal um polícia na cama?
2005/09/24A geopolítica do cinismo
2005/10/01Ilha no epicentro do vazio
Diário de Notícias, Opinião
Chipre esteve no centro do debate europeu sobre o início formal das negociações com a Turquia, previstas para 3 de Outubro. Esta ilha, que foi um protectorado inglês antes da independência, tem o seu norte ocupado pela Turquia. Por um capricho dos deuses, a UE permitiu a adesão de Chipre sem que, previamente, se tivesse resolvido o conflito aí existente. É certo que a UE contava que o plano gizado pela ONU fosse ratificado pelas duas comunidades cipriotas – a grega e a turca – em referendo. Mas não foi. A comunidade grego-cipriota respondeu de modo diferente do esperado. Agora, a situação é simples: a Turquia só poderá aderir à UE se reconhecer todos os Estados que a integram. Isto é óbvio até para Ancara. Mas é muito mais difícil de fazer. Exige tempo e não o toque de caixa de um ultimatum. Porque isto também é óbvio, as forças que se opõem a uma eventual adesão da Turquia, decidiram jogar todos os seus argumentos em Estrasburgo. Foram “quase” bem sucedidas.
Desde que a crise da UE se tornou patente – em consequência do fracasso do Tratado Constitucional e da ausência de acordo quanto aos dinheiros europeus – uma aliança heteróclita de forças políticas e Governos centrou a sua reacção à crise numa ideia simples: não há pão para malucos, enquanto a casa não estiver arrumada. Esta “frente de rejeição” vai da direita racista e anti-islâmica às esquerdas soberanistas que vêem em qualquer nova adesão uma diminuição dos fundos comunitários para os respectivos países. E pelo meio inclui ainda segmentos relevantes das direitas e esquerdas moderadas que, à deriva, entendem ser preciso parar antes que seja tarde.
A fronda atravessou todos os grupos parlamentares, sem excepção. Encabeçada pelo maior partido europeu, o PPE (direita), tentou inicialmente condicionar o começo das negociações oficiais com a Turquia a um prévio reconhecimento da República de Chipre. Isso não obteve. Aliás, só por isso votei a resolução de compromisso subscrita por todos os principais grupos do Parlamento Europeu. Mas o texto aprovado, ainda assim com significativa oposição, arrefece as posições que Estrasburgo tomara um ano atrás. Poder-se-ia dizer que tal endurecimento responderia a retrocessos de Ancara ao longo do ano. Mas isso não é verdade. Ancara manteve, porque ainda refém de um exército intratável, o seu bloqueio de espaço aéreo e marítimo a Chipre. Mas nos últimos tempos o primeiro-ministro turco desdobrou-se em sinais positivos para Bruxelas. Reconheceu existir uma “questão curda” em plena capital do Curdistão turco. E patrocinou o primeiro debate académico realizado na Turquia sobre o genocídio da população arménia às mãos do exército. Seja como for, o que se discutiu em Estrasburgo não foi a Turquia ou Chipre, mas a Europa. Chipre foi um mero pretexto para a santa aliança que prefere, à adesão, uma “parceria privilegiada” com a Turquia. É um eufemismo na realidade, trata-se de um acordo onde só entra o mercado, mas não as pessoas. Ou seja, a política e a democracia.
Porque este é o projecto, mas ainda não foi desta que mataram as negociações de adesão, as direitas quiseram a Europa a “falar grosso e de cima” com Ancara. Para que se percebam os pesos e as medidas, no mesmo dia, o plenário debateu também a última cimeira das Nações Unidas. Como se sabe, foi um fracasso com assinatura – a de John Bolton, porta-voz do Império em Nova Iorque. No mínimo, esperar-se-ia que a altivez revelada com Ancara tivesse equivalente com Washington. Mas nem preciso de explicar o que sucedeu: foi chumbada a emenda que assinalava este facto. Assim andam as coisas por Estrasburgo e Bruxelas. Cheias de dignidade…
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Mudando de assunto: garante o DN que Miguel Coelho, chefe do PS em Lisboa, afirmou que o PCP tem um acordo de distribuição de pelouros com o PSD, caso Carmona Rodrigues ganhe. É verdade que o PCP tem responsabilidades em executivos municipais de direita. Não deveria, mas tem. No Porto, em Gondomar, em Coimbra ou em Sintra. Mas em Lisboa nunca. Por isso, não são PCP e PSD que têm de confirmar ou desmentir. É o PS que deve provar. Não pode valer tudo na disputa de votos. Um voto conquistado ao adversário com base numa mentira é um desrespeito pelos eleitores. Manuel Maria Carrilho tem feito a mais desastrada das campanhas. Só falta que faça da mentira a cereja no bolo…