Jangada de pedra
2011/10/11Ruptura
2011/10/24A ressaca
É possível perder a ganhar? É. Aconteceu com Alberto João Jardim. O tiranete da Madeira ainda venceu – obteve a maioria absoluta dos deputados da região, apesar de, pela primeira vez em 33 anos, ter recolhido menos de metade dos votos em eleições regionais.
E, no entanto, perdeu. Alberto João Jardim bem pode continuar com as suas palhaçadas. Contudo, elas não lhe trarão as condições financeiras para governar. Durante três décadas, foi o rosto de um regime de ‘capitalismo de Estado’ ao abrigo do qual se forjou uma burguesia local predadora, especializada na privatização dos fundos públicos ao serviço da construção civil, do turismo e serviços conexos. Este modelo económico conseguiu angariar um amplo apoio popular, mas chega agora ao seu fim. Jardim vai acabar os seus dias de poder a contas com a factura do endividamento.
Desta vez, nenhum socorro lhe chegará do Continente. Anunciou que a troika não entraria na Madeira e ela já lá está. Exigiu, na amarga noite da vitória, que os «sacrifícios fossem iguais para todos» e Passos Coelho respondeu-lhe no dia seguinte: «O esforço de ajustamento terá que ser feito pelos madeirenses». É difícil imaginar vitória mais envenenada.
Pela Madeira entrarão em força a troika e o Governo. Não têm melhor oportunidade e não a perderão. Contam, para isso, com a compreensão e o apoio da esmagadora maioria da população portuguesa. Ainda por cima, estava o povo da Madeira avisado e ainda assim reincidiu, embora por curtíssima margem. Não. Desta vez, ninguém irá em socorro do populista. Nem mesmo da sua clique mais próxima.
No PPD da Madeira, a fractura será inevitável. Na região autónoma vai começar a luta da sucessão no regime. Os indefectíveis afundar-se-ão com o líder e quem saltou do barco a tempo espreita agora a sua oportunidade. É neste campeonato que o PSD nacional joga. Ele é o principal vencedor desta disputa apesar de não ter ido a votos.
Do lado dos vencedores, conte-se ainda o CDS. Triplica os votos e passa de dois para nove deputados, destronando o PS na chefia da oposição. Esta é, contudo, uma vitória perigosa. Enquanto o PSD não se dividir, o CDS será visto na Madeira como o partido do governo central, aquele que aplicará, de fora, o programa das malfeitorias. O que agora inchou, pode esvair-se em pouco tempo.
O terceiro vencedor de domingo foi José Manuel Coelho. Não é fácil explicar o sucesso deste homem. Mas a sua truculência e capacidade de provocação são rigorosamente simétricas das de Alberto João Jardim. No povo de esquerda mais pobre, nomeadamente o que durante décadas se habituou a votar na UDP, no PCP e no Bloco de Esquerda, este tipo de mensagem teve inegável capacidade de atracção. Por aqui se pode começar a explicar a derrocada da esquerda organizada em face da emergência de novos partidos estruturados em redor de novos protagonistas. Pois. Por vias travessas e não travessas, o populismo continua a fazer lei na Madeira.