Soberania limitada
2011/11/22Fragmentação
2011/12/06Greve geral
A estrada que vai ‘reescrever o futuro dos nossos filhos’ é a do ‘empobrecimento’.
As aspas referem-se, ambas, a frases do primeiro-ministro português e entre elas não existe qualquer ‘desvio colossal’, apesar de proferidas com dias de diferença. Passos Coelho também aproveitou a sua recente visita a Angola para explicar ao povo que o aumento de meia hora de trabalho por dia no sector privado equivalia à perda de dois salários na administração pública, razão pela qual qualquer outra redução salarial para lá da ‘moderação’ que aconselha, lhe parecia, vá lá, algo excessiva.
Grossa trapalhada! O governante devia ter ouvido o presidente da CIP explicar no último Prós & Contras da RTP1 que o sector privado se encontra em ‘ajustamento salarial’ desde 2008. As duas horas e meia semanais de trabalhos forçados, ou seja, gratuitos, que o Governo quer impor nada têm a ver com qualquer suposta ‘equidade’. Elas são, simplesmente, a compensação oferecida aos patrões para se não mexer na Taxa Social Única.
Em boa hora chegou o Prós & Contras desta segunda-feira, colocando os líderes da CGTP e da UGT de um lado e os dois homens fortes da CIP e do Fórum para a Competitividade, do outro. Em bom Português, os representantes do capital levaram uma ‘valente sova social’, devido à posição impossível em que ambos se colocaram: por um lado, criticando o Governo pela ausência de medidas para relançar a economia e, por outro lado, sustentando que o combate ao défice é a mãe de todas as urgências.
Algumas das intervenções mais interessantes vieram dos convidados sentados na plateia. Um constitucionalista social-democrata explicou que iria fazer greve, quando só raramente a faz, porque os cortes na Função Pública, além de humilhantes e errados, são, na sua óptica, inconstitucionais. O líder de uma associação de pequenas e médias empresas explicou como enfrenta a crise na sua própria empresa: cortou nos ganhos dos sócios gerentes, endureceu a negociação com os fornecedores… e, pasme-se, quer aumentar ‘na medida do possível’ os salários do seu pessoal. Em tempos negros, prefere que eles encarem o futuro com confiança. E, para que não restem dúvidas, se estiverem na greve geral, que lhes faça bom proveito, que são muitas as razões de indignação. Marcante ainda o comentário de uma trabalhadora de lavandaria industrial, relatando como o seu salário encolheu 5 por cento com o fim do subsídio de almoço.
No momento em que escrevo esta crónica a greve ainda não começou. Se tivesse que decidir com base no contraditório da Fátima Campos Ferreira, não teria dúvidas. Mas também é verdade que uma pessoa com o ponto de vista contrário teria ali encontrado argumentos que confortariam a sua opinião. Sabem? Serviço público de televisão é isto mesmo.