Debate sobre a ajuda humanitária aos refugiados do Sara Ocidental

Sessão de 14 de Abril de 2005

Portas (GUE/NGL), Autor. – Senhor Presidente, conheceis a narrativa bíblica da errança de um povo no deserto ao longo de 40 anos. Há muito de mito nessa aventura e, no entanto, ela é nossa.

No caso dos sarauis, não é de mito mas de factos de história contemporânea que falamos. Este povo espera há 30 anos no deserto dos desertos do Sahara.

Não procura a terra prometida. Quer simplesmente regressar, soberano, à sua terra.

Como jornalista conheci muitos campos de refugiados. Como descobri na Etiópia que existe o quarto mundo, o lugar onde um povo anda, anda e anda, porque andar é o seu modo de sobreviver. Mas nunca vi nada como os campos de Tinduff.

Ali nas areias não há electricidade, mas a solidariedade trouxe painéis solares.

Ali não há gota de água, mas a fornecida pela ajuda chega por igual a cada refugiado.

Assim como a farinha, o açúcar ou o azeite. E a dignidade.

Porque os Sarauis dependem da ajuda, mas não são pedintes.

Este Parlamento tem por isso uma responsabilidade que é uma urgência: repor os níveis de apoio humanitário e a sua variedade.

Mas tem também uma urgência que é uma responsabilidade: a verdadeira ajuda é a que pode, finalmente, dispensar a ajuda. A Europa deve comprometer-se com o referendo para a autodeterminação, em actos e não só em palavras.

Porque eles, os sarauis, têm o tempo. E nós o relógio.