O Não que vem das profundezas
2005/05/21A Europa depois da França
2005/05/29O dia seguinte
Admitamos então que o Não vence em França no próximo domingo e que uns dias depois o mesmo sucede na Holanda.
É o caos? A Europa implode?
Não, claro que não. A construção europeia foi demasiado longe para poder ser posta em causa pelo chumbo de um Tratado voluntarista.
A 30 de Maio vira-se, isso sim, uma página: a de uma Europa construída por cima das opiniões públicas europeias. Nessa segunda feira, as lideranças terão de encarar de frente este divórcio. Não podem mais fingir que ele não existe.
Terão que perceber as razões do Não francês – a recusa de uma Europa liberal muito pouco democrática.
A consequência desta evidência só pode ser uma: congelamento do pacote das directivas mais gravosas que estão para aprovação: a da liberalização dos serviços e a dos horários de trabalho asiáticos.
As lideranças terão ainda de decidir se prossegue ou não o processo de ratificação do Tratado. Eis a tentação. Contudo, o Reino Unido pode fechar esta porta para evitar um novo e definitivo Não que arrastaria Blair na onda. O bom senso recomenda que não se marre contra a parede e se dê prova de humildade democrática. Veremos.
Há ainda a considerar, no imediato, as Perspectivas Financeiras, de negociação cerradíssima. Paradoxalmente, é o Não que pode fazer desbloquear um dos factores de tensão: o chamado cheque britânico. Porque se Blair puser fim às ilusões dos que querem a ratificação a qualquer preço, será obrigado a compensar, antecipando o que, mais tarde ou mais cedo, será inevitável.
E, finalmente, o essencial: a 30 de Maio começa o debate que realmente nunca se fez em escala europeia – afinal, que Europa querem os europeus?