A armadilha
2012/01/31O power point
O Conselho Europeu de fim de Janeiro incluiu na sua agenda a palavra maldita dos últimos dois anos: ‘crescimento’. Terão os 27 chefes de Estado e de governo da União mudado de ideias?
Convenceram-se que, afinal, temos um problema de crescimento? Entraram no campeonato do relançamento económico? Sabem, ao menos, se ele é compaginável com a austeridade? Ou, prosaicamente, perceberam, como na anedota que se contava a propósito da União Soviética, que o que é preciso é agitar a carruagem para todos fingirmos que, afinal, ela avança?
Esta segunda hipótese é, infelizmente, 27 vezes mais plausível do que a primeira. Há muito que ninguém muda de ideias no Conselho, pela simples razão de que, em tal sede, é proibido ter ideias. Quem as tenha guarda-as para si, quem não as tem, faz suas as de Berlim. Esta é a lei, este é o diktat.
Neste Conselho, Durão Barroso teve um momento de glória: pôde apresentar aos líderes europeus, em première mundial, um colorido power point. Tema da bonecada: o tal do ‘crescimento’. Se o leitor se imaginar na sala castanha do Conselho assistindo à aula do presidente da Comissão, admito que até pudesse achar a novidade interessante. Mas se o leitor aí estivesse na condição de presidente da República ou de primeiro-ministro, manteria a mesma opinião? Ou julgar-se-ia de retorno à escola? Esta não é uma pergunta retórica. Com excepção da primeira imagem, o power point de Durão Barroso tem um nível de complexidade adequado a uma turma de estudantes do secundário. Ele diz mais sobre o nível de exigência intelectual e de informação europeia dos 27 do que mil discursos de cada um deles sobre o sonho europeu. Deste ponto de vista, ainda acharia piada à modernaça aula magistral de Barroso?
Um dos mapas do power point diz-nos que o desemprego juvenil anda pelas horas da morte. Dentro de meses, países como a Grécia e a Espanha, a Itália e Portugal apresentarão índices de emprego nesta faixa etária comparáveis aos existentes na faixa de Gaza. O mesmo power point mostra ainda que as politicas de que a UE dispõe para contrariar esta realidade são um programa de estágios, o Erasmus, outro de formação, o Leonardo, e ainda um de informação, o Eures. É como ir à caça de elefantes com fisgas.
Para compensar, a Comissão europeia propõe uma mão cheia de medidas… desde que elas não envolvam um euro de dinheiro fresco. É. O power point também nos diz que os custos do trabalho são a quinta preocupação dos empresários europeus e, apesar disso, os governos fazem da sua compressão a reforma das reformas. Pois. Dentro da carruagem anda tudo aos pulos ver se ela abana. Abanar, abana. Só não anda. Porque esta Europa não é dirigida a dois, mas pelo silêncio a vinte e cinco. Este, sim, é a força do Directório.