Périplo
O Mediterrâneo é o lugar onde a vida se fez Tempo
Este é um livro em três andamentos.
Comecemos pelo fim: Périplo inclui a série documental para televisão que lhe está na origem, realizada por Camilo Azevedo, e que a RTP emitiu em 2005. Foram as filmagens que então fizemos e o trabalho de preparação documental que exigiram, que se encontram na base deste livro.
Périplo é, em segundo lugar, um livro com fotografias embora não seja um livro de fotografias. Por vezes, elas pontuam passagens da escrita; outras, voam sobre esta. São apontamentos de viagem sem encenação. Muitas foram tiradas durante as visitas de preparação para o documentário, como material de trabalho, ou seja, como lembretes de memória visual para as filmagens que se seguiriam; outras revelam o modo como o Camilo foi captando os quotidianos dos lugares por que passava. São fotografias de viagem num livro de viagens. Este “texto” de instantâneos não se obriga às leis da concordância com a narrativa, antes a complementa. Faz-se de paisagens com e sem rostos, de ofícios e objectos, de cafés, montras e pormenores.
Périplo conta histórias, mas não é um livro de história; detém-se em paisagens, gentes e sonhos deste tempo, mas não é uma reportagem; visita ruínas e obras de arte, mas distancia-se do registo ensaístico.
Finalmente, algumas observações sobre o livro escrito. Périplo conta histórias, mas não é um livro de história; detém-se em paisagens, gentes e sonhos deste tempo, mas não é uma reportagem; visita ruínas e obras de arte, mas distancia-se do registo ensaístico. Na verdade, mistura estas distintas linguagens. Talvez se deva colocar na prateleira dos livros de viagens, talvez. Mas nem é um guia turístico, nem a escrita é a da introspecção do narrador em face das grandezas e misérias deste mundo. Périplo é um livro de viagens porque viaja. Por vezes, começa onde o documentário termina; noutros casos, conclui-se onde as imagens se iniciam. Pode ser lido do princípio para o fim, mas o leitor pode escolher o seu próprio itinerário. Não se perderá se o fizer do meio para cada um dos lados ou às “arrecuas” do fim para o princípio. No fundo, Périplo é um livro em forma de mosaico porque o próprio Mediterrâneo é um mosaico.