De pequenos nadas…
2006/08/01O JARDIM DOS CAMINHOS QUE SE BIFURCAM (I)
2007/04/01Fumos de guerra
Editorial do GLOBAL
Para Washington, Teerão só tem um programa nuclear civil porque quer chegar à arma nuclear. Em Bruxelas, parte-se da mesma presunção. Quanto ao Irão, insiste que o seu programa é estritamente civil e reclama, à luz do Direito Internacional, pleno tanto direito a ele. Pelo menos tanto quanto os EUA ou a União Europeia, que agora quer relançar o nuclear no velho Continente, em nome da independência energética.
Os cidadãos estão razoavelmente confusos, mas intuem a aproximação de uma nova guerra. Não percebem porque há-de um país com inesgotáveis reservas de petróleo precisar de energia nuclear, mas lembram-se ainda de como foram enganados sobre os motivos que estiveram na origem da invasão do Iraque.
As coisas podiam ser diferentes. Por absurdo que possa parecer, o Irão importa petróleo. A economia do país usa e abusa da sua principal fonte de riqueza. O litro de gasolina é de 6 cêntimos de euro, ou seja, 13 escudos antigos! Mudar o padrão de consumo energético é, por isso, indispensável, qualquer que seja o regime. Como sucede com todas as revelações tardias das economias preguiçosas, o que se encontra mais à mão, é o que serve – é o caso do nuclear. Sobre a substância, o erro de Teerão não é distinto do de Bruxelas.
Acresce que os iranianos têm o Direito por si. Contra isto, batatas. O que se pode e deve fazer é negociar. A União Europeia dispõe-se a fornecer o urânio enriquecido para as centrais iraquianas; o regime islâmico quer que o enriquecimento se faça no próprio país, mas aceita um consórcio internacional para o fazer, e respectiva fiscalização pela Agência atómica. Nenhuma das variantes implica guerra.
O que entorna o caldo é o atoleiro em que os norte-americanos se meteram no Iraque. Por causa dele, cercam Teerão, bloqueiam saídas políticas na Palestina e no Líbano, e inventam uma aliança regional anti-xiita. Este, o contexto que permitiu transformar o programa nuclear iraniano numa questão de dignidade nacional. É óbvio que Teerão não suspenderá o processo de enriquecimento de urânio enquanto durarem as sanções em sede de ONU – se o fizesse, não teria nada para dar em negociações… Prefere antes esperar. Nos próximos meses, ficará a saber se G.W. Bush, além de perdedor no Iraque, se vai revelar como louco no Irão.