Tratado
2012/01/24O power point
2012/02/07A armadilha
Questionado sobre a possibilidade de Portugal ter de renegociar a dívida, o ministro não respondeu directamente à questão, afirmando que o país está «a fazer o trabalho de casa». Álvaro Santos Pereira acrescentou ainda: embora… «a economia portuguesa também esteja dependente da evolução da economia internacional».
Estas declarações surgiram na sequência de um artigo no jornal norte-americano Wall Street Journal (WSJ), onde se admitia como provável que Portugal viesse a necessitar de um novo resgate internacional. «Com as taxas de juro sobre as obrigações do Tesouro português ainda acima dos 12 por cento, apesar de descidas recentes, parece improvável que se concretize o regresso aos mercados, mesmo que as metas orçamentais sejam cumpridas», sintetizou o jornal.
A gangrena da austeridade contamina toda a União e liquida o “modelo de salvamento” imposto às periferias.
O artigo, escrito pela correspondente do WSJ em Lisboa, citou ainda o ex-ministro das Finanças, Teixeira dos Santos: «O drama disto tudo é que podemos fazer o nosso trabalho exactamente como nos foi pedido mas, se a Europa não tiver uma resposta adequada, poderá ter sido tudo em vão».
Esta notícia económica acaba como começou: o país está a fazer o «trabalho de casa», mas isso poderá ser em vão. Por outras palavras: em Portugal, o consumo privado, o consumo público e o investimento têm vindo a ser drasticamente comprimidos, em nome da diminuição do défice. Este é também o motivo porque se aumentaram os impostos.
Neste cenário, todas as hipóteses da economia foram colocadas na dependência do crescimento das nossas exportações. Mas é aqui que a porca torce o rabo. «Se a Europa não tiver uma resposta adequada», filosofa o antigo ministro. Ou… em economia «há imponderáveis», reconhece o actual responsável pela economia. Na verdade, a estratégia imposta pela troika – e que o Governo vem selvaticamente executando – assenta, toda, numa simples ‘fezada’.
Sucede que a Europa é, toda ela, um gigantesco ‘imponderável’. Enquanto a austeridade se confinava à Grécia, a Portugal, à Irlanda e a alguns médios e minúsculos Estados a Leste, os responsáveis ainda podiam insinuar que os sacrifícios traziam consigo uma promessa de luz ao fundo do túnel. Mas quando a austeridade se instalou de armas e bagagens em Inglaterra, na Itália e em Espanha, por sinal, o nosso maior parceiro comercial, tal quadro desfaz-se. Não é por acaso que a Alemanha e a França também entraram em estagnação. A gangrena da austeridade contamina toda a União e liquida o ‘modelo de salvamento’ imposto às periferias. Portugal nem tem a sorte de depender pouco do mercado europeu.
O WSJ tem mesmo razão. Vamos entrar no ciclo fatal dos que contratam dívidas novas para pagar as antigas. Enganaram-nos, como o Presidente da República outro dia vos enganou.