Greve geral
2011/11/28Memória
2011/12/20Fragmentação
No momento em que escrevo, é um segredo de polichinelo em vias de confirmação: Merkel e Sarkozy, a dupla que dirige a Europa, prepara a fragmentação do euro, criando uma zona euro ‘de elite’ a partir de acordos bilaterais entre os países que possam cumprir as regras exigidas por Berlim.
A notícia surgiu no início da semana, no jornal alemão de maior tiragem, o Bild, culminando várias semanas de especulações. 24 horas depois, o diário espanhol El País fazia eco de um comunicado de Wolfgang Schauble, ministro alemão das Finanças, onde se reconhecia que as autoridades do seu país estão «a trabalhar intensamente na criação de uma União estável através de mudanças no Tratado». A linguagem é cifrada, mas não engana quem está por dentro dos debates europeus. O comissário espanhol, Joaquin Almunia, reagiu, criticando a França e a Alemanha por se «arrogarem» o direito de «decidir em nome de todos». O alemão não gostou e respondeu com a subtileza de um elefante numa loja de porcelanas: «Almunia não se deve meter em assuntos que não são da sua competência».
De que se trata, afinal? Os contornos do novo modelo poderiam configurar uma Europa a três velocidades: os países de uma zona euro ‘reforçada’, os que ainda estariam no euro, mas fora do núcleo duro e, finalmente, os que já se encontram fora do euro. Depois de sucessivos desmentidos, em nome da ‘estabilidade’, o governo alemão já não desmentiu o plano avançado pela imprensa do seu país.
Não deverão ser apenas a Grécia, a Irlanda e Portugal a ficar de fora da zona euro ‘de elite’. Países como a Itália, a Eslováquia ou a Espanha podem não conseguir cumprir os duros critérios que Berlim está a preparar. Com efeito, o top da zona euro assentaria num Pacto de Estabilidade e Crescimento ‘reforçado’, incluindo punições drásticas aos incumpridores e um governo económico unificado. A emissão de obrigações europeias conjuntas, restrita aos países cujas dívidas soberanas teriam triplo A das agências de notação, seria uma das consequências deste novo desenho institucional.
Esta mutualização selectiva da dívida garantiria obrigações a juros entre 2 e 2,25 por cento, a adquirir pelo Banco Central Europeu, em nome do financiamento de eventuais resgates sobre grandes economias europeias, como as de Espanha e Itália. Escusado será dizer que estes países só receberiam o apoio da ‘elite’ sujeitando-se a novas e ainda mais violentas medidas de ‘saneamento económico’.
A integração no PEC ‘reforçado’ seria, assim, um acto voluntário, feito através de acordos bilaterais que evitem mexidas mais difíceis nos tratados.
E Portugal no meio de tudo isto? É uma bela pergunta que não dispensa outra. E a Europa que se está a congeminar? Ainda tem algo a ver com a que um dia foi prometida aos europeus?