Fragmentação
2011/12/06Balanço
2011/12/26Memória
«Em consequência da II Guerra Mundial, a perspectiva que a Europa oferecia era de miséria e desolação (…) Tudo e todos parecem gastos, sem recursos, exaustos».
A citação é de Pós-Guerra, a grande história da Europa de Tony Judt. Foi desta tábua rasa – onde havia muito pouco de tudo – que nasceu a Europa que conhecemos.
Vários factores foram decisivos para que a Europa tivesse recuperado tanto em tão poucos anos. «Numa coisa todos os resistentes e políticos concordavam: seria necessário intervir nos assuntos económicos». Esta opinião era, evidentemente, partilhada pela esquerda. Contudo, até o eleitorado conservador era sensível ao planeamento. Afinal, «do que se precisava era de cidades bem planeadas, bem construídas, de parques e campos de jogos, de lares e escolas, fábricas e lojas». No Reino Unido, na França, em Itália ou na Checoslováquia e na Polónia, o planeamento foi acompanhado da nacionalização dos bancos e seguros, dos transportes e serviços públicos e das indústrias militares e estratégicas. Explica ainda Judt que «todos os grandes investimentos tiveram de ser realizados com financiamentos públicos e orientaram-se para as indústrias mais importantes, à custa do consumo interno, da habitação e dos serviços».
ACONVERSA adquire agora uma estranha actualidade. Em 1947, os governos cedem às políticas de austeridade, apesar de reconhecerem que «uma estratégia de sucesso deveria evitar qualquer regresso à estagnação económica e, sobretudo, ao desemprego». É este o contexto em que nasce o Plano Marshall, para lá dos interesses próprios dos norte-americanos. O seu autor reconhece que «as abordagens bilaterais de Washington aos problemas económicos da Europa haviam falhado». Por isso, o novo programa de financiamento centra-se na recuperação e no crescimento, ao contrario dos actuais resgates. Os credores de então não quiseram matar o comatoso paciente. Aliás, os norte-americanos desencorajavam as abordagens austeras dos governos europeus. Eles queriam orientar os fundos, mas «evitaram uma abordagem de figurino único», dando aos países margens de liberdade incomensuravelmente superiores às das troikas de hoje.
FOI esquecida a lição? Não. Em recente entrevista, Sarkozy explica porque não baixa salários nem pensões: «Se formos nessa direcção, colocaremos a França em recessão e em deflação. Se reduzir as suas receitas ao mesmo tempo que baixa as suas despesas, você não resolve os problemas de défice. Eis porque, em 2009, decidimos investimentos de futuro na ordem dos 35 mil milhões de euros. É o contrário de uma política de rigor e de austeridade». Sarkozy não quer para a França a cura que impõe aos outros e até explica porquê. Deve pensar que somos mesmo muito estúpidos…