A Europa da mercearia

Sessão de 22 de Junho de 2005
Debate conjunto Conselho Europeu/Presidência luxemburguesa

Intervenção de Miguel Portas

Ao Conselho faltou coragem para enterrar o Tratado. A pausa não é nada. Não se adia o que já morreu. Nem há ressurreição para o que não pode ser salvo.

Ao Conselho faltou ainda a visão. A franqueza do Presidente do Conselho, apenas ilumina a verdade escondida da Europa dos governos: sem ambição política própria, refém dos egoísmos nacionais, quer fazer omeletas sem ovos. E dedica-se à mercearia. Assim, só pode falhar.

Há um antes e um depois do voto francês. Ou a Europa quer ser apenas um mercado, ou se refunda. E avança porque ouve as razões sociais dos referendos.

A emergência da opinião pública é a novidade mais importante desta crise. Este novo protagonista não quer menos Europa. Quer mais e melhor Europa. A resposta não é a pausa, mas a coragem de um novo processo constituinte, realmente democrático. E não é o impasse, mas uma Europa dotada de recursos próprios, mais solidária e capaz de lutar contra o desemprego.